Segundo Aristóteles, podemos classificar as pessoas numa escala que vai de bestial a super-humano, seguindo a seguinte premissa: imagine que uma pessoa andava por um caminho deserto e encontrou uma carteira com dinheiro. De acordo com a classificação de Aristóteles, essa pessoa seria:

  1. Super-humano: perfeito, mas não existe
  2. Virtuoso: nem passa pela cabeça ficar com o dinheiro para si, e seu principal objetivo passou a ser entregar ao verdadeiro dono, e ficará feliz em fazer isso.
  3. Continente: é capaz de tomar a decisão correta, devolve a carteira ao dono, mas sente desejo de pegar o dinheiro para si.
  4. Incontinente: mesmo sabendo que é errado, não consegue resistir ao desejo de ficar com o dinheiro e sucumbe ao errado.
  5. Vicioso: faz o que é errado, fica com o dinheiro, se se orgulha disso e acha que fez certo.
  6. Bestial: nem é humano.

Se há um valor moral fácil de ser seguido, que se apresenta a nós durante nossa trajetória de vida, por que não é raro que as decisões não virtuosas sejam as preferidas?

As normas técnicas e de segurança certamente tem, entre seus objetivos, o de preservar a vida humana e proteger sua integridade física. Elas foram criadas e aprimoradas a custo de muitos erros, acidentes e vidas perdidas, e só por isso deveriam ser muito valorizadas.

Um exemplo bem simples é o da NBR 5410 ao tratar da identificação dos condutores por cores: no texto da norma há a frase “Em caso de identificação por cor, …”, que abre precedente para que se utilize outro método de identificação. Mas nos parágrafos seguintes a norma especifica que a cor azul deve ser usada somente para o neutro, o verde (ou verde-amarelo) somente para o terra, depois reforça que os condutores de fase não devem utilizar o azul nem o verde e evitar o amarelo caso o terra seja verde-amarelo listrado.

Não é difícil entender o motivo que leva a norma a contemplar esse esquema de cores, e muito menos colocar em prática. Cores diferentes facilitam muito na hora de fazer a ligação dos fios, diminuem tempo da atividade, evitam erros, acidentes e custos. Por isso deveria ser raro encontrar instalações pautadas na bestialidade. Mas infelizmente não é.

Por todos os locais que passamos, sempre há a discussão sobre a real necessidade de se utilizar o padrão de cores da NBR 5410, e diversas acrobacias de justificativas aparecem, o que só nos mostra o seguinte: o quão engajada essa empresa ou este profissional está em prestar um serviço de excelência? Se num item simples, sem custo adicional, algumas empresas relutam em fazer, o que se pode esperar de um item que seja muito mais trabalhoso e complexo?

Dizer que a cor dos condutores é indiferente, que pode ser identificado com fita adesiva nas pontas, ficar justificando de qualquer maneira a decisão errada somente demonstra uma coisa: o quão vicioso se é.

Juliano Machado Gonçalves – dezembro-2021

Leave a Comment